segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

BEATRIZ

Despretensiosa Beatriz, que por tantas vezes sonhou acordada pra não dormir.
Afoita Beatriz, que por tantas vezes meteu os pés pelas mãos e estas nas braguilhas de gajos desavisados.
Insana Beatriz, que por tantas vezes usou a língua para dizer o que não devia e para tantas outras deliciosas coisas a que esse chicote do corpo pode lhe servir.
Beatriz era dessas mulheres da vida que transpiram vida em lençois de cores cafonas.
Beatriz era à toa como o eram os seus pensamentos que vagavam por lugares onde ela nunca pudera estar.
Beatriz foi mãe aos quatorze anos e abriu as pernas para ter seu filho com a naturalidade com que parem as éguas num pasto ao entardecer.
Beatriz nasceu de boa família, foi bem educada e frequentava as missas com sua mãe, embora nunca tivesse sido religiosa.  De religião só entendia nas tardes de Domingo quando metia-se na cama de Padre Luiz e dele extraía mel como se abelha operária fosse.
-  Tu és vagabunda?
- Sim, padre.  Eu sou uma vadia.
- E o que tu acha que merecem as vadias?
- Pau, padre.  As vagabundas merecem pau.
E, assim, passavam-se as tardes dominicais de Beatriz, entre suor e gozo que ela bebia como se um bezerro faminto fosse.
Seu filho crescia e crescia, também, o seu desejo pela lascividade e pelos prazeres que  seu corpo pudesse lhe dar.
Logo, fodia com o padre, com o dono da mercearia, com o médico da cidade e com a mulher deste, quando tempo lhe restava.
Ao completar vinte e dois anos, em sua boceta já haviam entrado todos os paus das redondezas.  Sua boca já havia sorvido o gozo de tantos homens e mulheres que ela nem sequer ousava mais contar.
Dia daqueles, quente como o inferno, Beatriz com seu vestido estampado estava a vagabundear pela praça quando ouviu alguém a lhe chamar.
- Você é a Beatriz, filha de dona Cidinha?
- Sou eu, sim.
- É tu que sabe ler as mãos?
- Olhe, moço.  Eu até lia as mãos, mas, cansei dessas coisas.  Isso não me deu futuro não.
- Ora, pois me disseram que tu viu nas mãos do doutor que ele tinha doença ruim.
- Já lhe disse, moço, eu não quero mais essas coisas pra mim, não.
- E pagando, tú lê?

(continua)