segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Sobre Lobos e Cantores


Lobos uivam na madrugada,
por instinto uivam.
Cantores soltam a voz em todas
as horas em que o ofício os chama,
por natureza cantam.
Lobos andam em alcatéias,
cantores vivem sós, rodeados de gente.
Lobos se acasalam,
cantores têm as mais impossíveis paixões.
Lobos são crias da natureza,
cantores são produção dos homens
pelo dom da voz divina.
Cantores choram,
não como os lobos pelos tementes invernos,
mas pela inquietude que os atormenta.
Lobos se entorpecem com suas presas,
cantores são viciados
em vida, em vinho, em marijuana.
Lobos são lobos,
cantores são instrumentos.
Lobos têm cores tênues,
cantores se colorem para espetáculos
que nem sempre os fazem felizes
Lobos cometem instintamente homicídios,
cantores se suicidam por amor.
Lobos comem carne crua,
cantores se deleitam em
corpos quentes, morenos, serenos.
Não sei se lobos têm almas,
mas os cantores as têm.
Com o propósito da voz,
com o destino do palco,
com o medo da fama,
com o espinho que lhes fere a carne.
Oficiosamente lobos e cantores
se fundem na magnífica beleza
do impenetrável,
na indescritível sutileza
do desconhecido,
estigmatizados pela lua cheia.

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