quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Lobo do Mar


Navego por mares que jamais tivera coragem de navegar,
Conheço terras e pessoas que existem e eu sequer poderia imaginar.
Vêm os temporais, vêm os ventos do norte, os furacões do sul, vêm
as sereias do Ártico a me enfeitiçar, vêm os lobos de outras terras e
vêm os lobos do mar.
Meu alimento é a dor de não ver a tua cara, minha água é o sal da lágrima
que desce aos lábios.
Me pergunto porque não aporto em outro cais que não o seu, porquê só teu
porto aprendi a chamar de meu.
Vem e vão as estações, vêm os invernos e acabam os verões.
Sou agora o amido dos pães que atirei ao mar.
Sou amigo das sereias que, comigo, lamentam a dor de não te ver,
A angústia de não te amar.
Me imagino um lobo do mar e, na verdade, foi isso que me tornei,
Um lobo que, faminto, procura como ovelha pelo teu corpo.
Um lobo que, sedento, vaga insano à procura do seu suor.
Os golfinhos seguem minha embarcação, parecendo sofrer, como as sereias, de
dor pelo seu amor.
A água do mar apodrece minha carne, o sal me corta em pedaços que parecem destinados
ao banquete pelo fim de mim.
Subo à vela e, desesperado, grito o seu nome; chamo o seu nome como se fora o
nome de um deus qualquer.
Você não me vem e a noite cai lenta, parecendo a cortina de um grande espetáculo.
Vejo as estrelas como que expectadoras dessa ária horrenda que só terminará quando a cortina
da noite der lugar ao espetáculo triste do nascer do sol.
Desço exausto até o meu convés, aquecido pelo terrível calor do sol que me dilacera a carne, me
embriaga a alma e me faz cada vez mais longe do seu cais.
Me vêm forças que outros semi- vivos não têm.
Os golfinhos me abandonaram em busca de águas frias;
Morreram as sereias, exaustas e tristes com o meu lamento.
Meu navio perdeu o leme e, agora, desgovernado, não sei como te encontrar.
Louco de dor, vejo terra alguma e adormeço.
Quem sabe, quando a cortina da noite cair e, como num ritual insano, voltar a subir, eu estarei de novo em Porto Seguro, em seu corpo seguro.
Eu sei que é lá que curo minhas feridas, que minha alma descansa e eu grito a felicidade de te amar.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Flores


Me mande flores com cores de Dali
Me mande flores com cores de cá
Descubra Fukuda e me mande flores com essas cores
Me extasie com cores mortas,
me faça chorar com cores vivas,
me enlouqueça com tons pastéis,
me entorpeça com todas as cores.
Me mande flores enquanto eu as posso achar belas.
Arranque pétalas de meu eu tão blasé,
achando que já vi todos os jardins do mundo.
Me mande flores para que eu as veja vivas no vaso da sala,
pra que eu lamente por vê-las murchar.
Espinhe minha carne para que eu acorde de sonhos que não quero sonhar.
Me tire os espinhos para que eu não possa te machucar.
Me mostre o colorido da flor que você morde sôfrego,
no prazer profundo de eu te amar.
Me dê néctar no café da manhã,
me faça comer verdes talos no almoço
e sementes no jantar.
Mas, me mande flores.
Inspire a água do meu corpo.
Transpire pra me regar.
Me deixe ver o jardim de sua alma,
me deixe sentir o cheiro do lírio que você transpira.
Me deixe te regar
Me surpreenda,
Me mande flores.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Linha Tênue














O que separa o bem e o mal?
O mel e o fel?
Os dias nublados e os ofuscantes raios solares?
O amor e o ódio?
O céu e o inferno?
O que separa o primeiro beijo da fatídica despedida?
o nascer da inevitável morte?
o azar da extrema sorte?
Linhas, invisíveis linhas separam o calor dos corações apaixonados da geleira dos que não sabem amar.
Linhas, tênues linhas separam a precisão da escrita do desastre do poeta.
Ah! As malditas linhas transparentes que separam o prazer do desprezo,
a pureza do sentimento do simples amor erótico.
A pureza da escrita sã da necessidade do metal que paga por ela.
As linhas, as minhas, as suas.Todas as finíssimas linhas que cerceam os homens desde o seu primeiro homicídio ao seu primordial beijo.
As linhas da palma da mão,
As linhas da vida que escorre entre os dedos,
As linhas do monitor onde agora se desenham letras,
As linhas de cadernos onde se rabiscam poemas sem rima.
A linha, a minha, a sua,
A linha tênue.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Fakes


E dentro do universo de bytes, megabytes e teras
me perdi do sonho real em imagens que os homens fabricaram.
E dentro do espaço das teclas velozes conheci um mundo novo.
Como numa matrix de sentimentos inconstantes escolhi o comprimido
sem cor e me deixei deleitar pela ilusão do desconhecido.
Mera ilusão.
A matrix estava fadada ao fim e os sonhos junto com ela.
E então, como num milagre, a vida ressurge das cinzas tal qual a fênix dos meus clichês baratos e traz consigo aquele que tem um olho verde e outro azul.
E os “fakes” se vão, as madrugadas encurtam e a realidade bate voraz à porta do apartamento no décimo terceiro.
Quem sabe os “fakes” se fundam à realidade e dessa mistura não nasça o segundo sol.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Fale com Eles





Eles criaram você para ser o melhor na escola.
Eles se decepcionaram quando souberam que você odiava jogar bola.
Eles prepararam você para ser o xodó das meninas do bairro, e, talvez, tenham chorado escondido por saber que você só as queria pra brincar de pula-elástico.
Eles correram ao especialista achando que você passava por uma fase e se tocaram que essa fase era prá vida inteira.
Sofreram por isso também
Eles queriam que você lhes desse uma linda nora, mas, um belo dia, você lhes apresentou um amigo muito chegado, com quem eles aprenderam a conviver e, quem sabe, até amar.
Eles esperavam que você fosse um grande homem e por isso não tiveram que chorar.
Você não os decepcionou
Então, pára de ficar me encarando aí deitado como se eles tivessem errado, ou como se você é quem tivesse metido os pés pelas mãos.
Você faz parte da divina natureza humana onde cada um tem seu papel, onde cada um escreve a sua história.
Pára de ficar aí me olhando com essa cara de conquistador do mundo, se você não consegue conquistar nem o amor de quem chorou prá você estar ai.
Pára com esse melodrama de “eu sou o diferente” e comece a deixar de se preocupar com o que eles estão cansados de saber
Levanta dessa cama, tem um sol lá fora.
Se olhe no espelho, assuma que você é o que é
e fale com eles.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Assunção


Assumo que não me conheço, não tenho a pretensão vazia de te impressionar.
Dizem as letras do meu Aurélio que assunção é assumir.
Então, assumo que não te pertenço, não tenho a intenção repleta de te conquistar.
Diz o meu escrito antigo que assunção é coisa de virgem.
E eu que nasci com o seu signo?
Como é que faço pra te ascender?
Como é que faço pra te acender?
O que é que faço com a minha assunção?
Assumo que não te esqueço, não tenho a direção precisa pra te levar.
Diz o meu coração cantador que assuntar é te ouvir baixinho.
Então, assumo que não te auscutei na lua cheia, não tive a assunção de te incendiar.
E eu que nasci com o seu signo?
Como é que faço pra te ascender?
Como é que faço pra te acender?
O que é que faço com a minha assunção?

sábado, 5 de janeiro de 2008

Corsários


Eu queria ver, no fundo de tudo, o que me faz tanto te amar.
Se os segundos perdidos na imensidão dos meses, se os meses
encravados nas encostas do ano.
Eu queria ter, no fundo, de novo, o primeiro olhar de seu olho
esquerdo, o primeiro toque de suas mãos apressadas, o primeiro
gozo de todas as madrugadas.
O que eu queria era esquecer minhas roupas no seu armário,
meu corpo em sua cama, meu suor no seu cansaço.
O que eu queria era voltar a ser positivo e, ainda assim, atrair o seu
lado imantado, seu beijo apressado, sua saliva, seu pecado.
Pena os dias não nasçam iguais, pena não ver se materializar em calor
o seu corpo perto do meu, quando os dias nos dão sinais.
Pena, que pena! Que ferida me faz sangrar nas noites insones,
como se estivéramos de viagem para um lugar distante,
portadores infelizes se uma passagem de não voltar.
Ah! O amor. Tão bom, tão ruim. tão perto que, se assustado, desmaia e morre.
Vejo aquele que chamam das oliveiras e sei que lá, tão perto, tão exato,
morrerei por não mais ter a mão do mar.
Sei que corsários partem, sei que corsários chegam e, por muitos deles,
partiria geleiras azuis, caminharia sobre o mar, e dormiria os onze períodos
destinados à minha felicidade.
Mas, também sei, que corsários voam, que têm longas asas brancas
iluminadas pelo segundo sol imaginário.
Sei que corsários voam, sei que eles voltam e trazem à bordo o veneno que
alivia a dor, que estanca o sangue e faz voltar à ser feliz.
Sei que corsários são corsários, grandes, pequenos, corsários,
apaixonantes, capazes de fazer nevar em corações, capazes de arrebatar
sensações, capazes de quebrar geleiras e nos deixar passar por elas solitários,
nus, como um dia nos encantamos, corsários.