sábado, 5 de janeiro de 2008

Corsários


Eu queria ver, no fundo de tudo, o que me faz tanto te amar.
Se os segundos perdidos na imensidão dos meses, se os meses
encravados nas encostas do ano.
Eu queria ter, no fundo, de novo, o primeiro olhar de seu olho
esquerdo, o primeiro toque de suas mãos apressadas, o primeiro
gozo de todas as madrugadas.
O que eu queria era esquecer minhas roupas no seu armário,
meu corpo em sua cama, meu suor no seu cansaço.
O que eu queria era voltar a ser positivo e, ainda assim, atrair o seu
lado imantado, seu beijo apressado, sua saliva, seu pecado.
Pena os dias não nasçam iguais, pena não ver se materializar em calor
o seu corpo perto do meu, quando os dias nos dão sinais.
Pena, que pena! Que ferida me faz sangrar nas noites insones,
como se estivéramos de viagem para um lugar distante,
portadores infelizes se uma passagem de não voltar.
Ah! O amor. Tão bom, tão ruim. tão perto que, se assustado, desmaia e morre.
Vejo aquele que chamam das oliveiras e sei que lá, tão perto, tão exato,
morrerei por não mais ter a mão do mar.
Sei que corsários partem, sei que corsários chegam e, por muitos deles,
partiria geleiras azuis, caminharia sobre o mar, e dormiria os onze períodos
destinados à minha felicidade.
Mas, também sei, que corsários voam, que têm longas asas brancas
iluminadas pelo segundo sol imaginário.
Sei que corsários voam, sei que eles voltam e trazem à bordo o veneno que
alivia a dor, que estanca o sangue e faz voltar à ser feliz.
Sei que corsários são corsários, grandes, pequenos, corsários,
apaixonantes, capazes de fazer nevar em corações, capazes de arrebatar
sensações, capazes de quebrar geleiras e nos deixar passar por elas solitários,
nus, como um dia nos encantamos, corsários.

Um comentário:

Dauri Batisti disse...

É Beto,

soubeste falar de amor: "Tão bom, tão ruim".

Dauri Batisti