quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Eu queria ser rico

Queria ser rico.
Ser rico tem lá suas desvantagens, mas, quem sabe,
as virtudes fossem compensadoras.
Ser rico implicaria em mudanças substanciais,
mas o que é substância sem substantivos?
Ser rico me levaria a ter gargalhadas
enormes por coisas de ínfimo tamanho.
Ser rico me levaria ao mar com a facilidade da onda.
Talvez, por isso, quisesse ser rico.
Pelo mar, pela facilidade que o rico tem de se
deixar levar pela maré e, só nesse instante,
deixar desnuda sua alma.
Rico é complicado.
Ou será que meu mundo se tornou pequeno?
Não. Grande bobagem!
Rico é simples como a água, mas, como ela,
quando em rios, às vezes se turva e não se pode ver o fundo.
Rico tem riquezas que poucos mortais ousariam guardar.
Mas, rico gosta de guardados antigos, de sentimentos novos,
do cheiro de maresia longe da água.
Quem sabe eu quisesse ser rico pela simples e absoluta liberdade?
Sim, essa é a questão de ser rico. A liberdade.
A facilidade de voar pelas teclas em palavras alegres,
em dias que nem sempre o são.
A ferocidade de não atacar,
mesmo no mais enfadonho fim de tarde.
A velocidade do sentimento que rola da face e no
segundo seguinte se torna o mais superficial sorriso,
mesmo assim, feliz.
Felicidade!
Talvez essa seja a palavra que descreve rico.
Mas, deixemos de lado a torpeza da linguística
tupiniquim e partamos ao início da prosódia.
Entre perdas e danos, Juliete Binoche e Jeremy Irons,
entre Closer e Moulin Rouge, foda-se quem fudeu quem.
Se já quiseram ser Malkovich e Cássia Eller,
porque eu não posso ser rico?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Microfilmes


Hoje à noite quero sonhar você.
Sonhar que dos encontros breves,
Dos toques tímidos e dos carinhos
mortos, nasce um grande abraço,
um grande passo em direção ao mundo estranho.
Comigo vai tudo bem.
Nas manhãs acordo com seu cheiro,
onde você nunca o deixou.
Meu coração dispara à cada
ataque do seu sorriso calmo,
à cada vento que me
traga notícias suas.
Ah, o seu corpo!
Desejo permitido que não se
pode permitir que se permita.
Teu nome de santo da terra
dos santos com codinomes.
Tua faceta estranha se casa
com minha aura colorida de
medos e insensatez.
Ah, menino!
Serei seu pai, seu filho,
seu amante ou nada do
que pensamos?
Vem! No sonho dessa noite
cheia de coisas comuns; de
lua nova, de janelas abertas
e corações revelados em
microfilmes.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Inconstantemente


Queria saber o que me faz te amar tanto no agora e te odiar nos dez segundos que vem.
Queria saber de onde vem o fogo que me incendeia por um momento e a geleira que me congela por outros tantos.
Só queria a sensação de ser constante no inconstante do meu mundo, a sutileza de sangrar por horas os minutos que perdi.
Queria perder o rumo no mar da lucidez.
Ser louco e aportar no cais da incoerência.
Fazer do ar o meu chão e de você a meia face da lua.