terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Então.... É Natal?


Na África, a cada três segundos,

uma criança morre vítima da miséria,

da fome, da AIDS e do mais absoluto esquecimento.

Não deixe de incluir em suas preces de Natal

esses 12.000.000 de seres humanos

que partem deste mundo sem saber o que é o Natal.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A Cara à Tapa


A outra face que me perdoe,
mas, a face esquerda não dou a ninguém.
Talvez seja porque dar a cara à tapa não
seja meu feitio.
Talvez porque ache sofrer doentio.
Talvez porque seja simplesmente gente,
e gente que é gente não leva na cara.
Entrego minha cara à vida.
Meto a cara em viver cada dia,
como se fosse o último
Talvez seja culpa de minha alma virginiana,
metida a perfeita.
Talvez por isso meta os pés pelas mãos,
num malabarismo que poucos conseguem entender.
Talvez seja de meu coração tolo,
que não me permite dar a cara,
mas se entrega ao primeiro sinal de sim.
Dar a cara à tapa é para heróis
e todos os meus morreram de amor.
Até Astro, meu capitão favorito se foi.
Talvez deva inventar um novo Astro,
um que seja tão forte que suporte dar a
outra face.
Um que seja tão forte que suporte
viver sem os limites que os nascidos sob
o signo virgo se impõem.
Talvez seja assim, talvez,
um dia, entregue minha cara,
numa aposta louca, pra alguém bater de volta.
A outra face que me perdoe,
mas, por hoje, não dou a cara à tapa.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Sobre Lobos e Cantores


Lobos uivam na madrugada,
por instinto uivam.
Cantores soltam a voz em todas
as horas em que o ofício os chama,
por natureza cantam.
Lobos andam em alcatéias,
cantores vivem sós, rodeados de gente.
Lobos se acasalam,
cantores têm as mais impossíveis paixões.
Lobos são crias da natureza,
cantores são produção dos homens
pelo dom da voz divina.
Cantores choram,
não como os lobos pelos tementes invernos,
mas pela inquietude que os atormenta.
Lobos se entorpecem com suas presas,
cantores são viciados
em vida, em vinho, em marijuana.
Lobos são lobos,
cantores são instrumentos.
Lobos têm cores tênues,
cantores se colorem para espetáculos
que nem sempre os fazem felizes
Lobos cometem instintamente homicídios,
cantores se suicidam por amor.
Lobos comem carne crua,
cantores se deleitam em
corpos quentes, morenos, serenos.
Não sei se lobos têm almas,
mas os cantores as têm.
Com o propósito da voz,
com o destino do palco,
com o medo da fama,
com o espinho que lhes fere a carne.
Oficiosamente lobos e cantores
se fundem na magnífica beleza
do impenetrável,
na indescritível sutileza
do desconhecido,
estigmatizados pela lua cheia.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Anônimo


Já te chamei princesa,
bichinho do meu armário,
Já te chamei amor.
Troquei seu nome em segredo
prá não te perder por medo,
já chorei a sua dor
Agora não sei como te chamam,
Te perdi quando dormia
E você não me tocou.
Seu nome não foi achado,
eu escondi selado, no espelho
do toucador.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Poema prá Elis

Eu tenho discos e livros que
exalam cheiros fortes e confusos.
Meus ouvidos ouvem músicas
e meus olhos lêem sons
de acordes que não posso tocar.
Minha casa tem portas e
janelas fechadas pro tempo,
fechadas pro vento, fechadas prá mim.
Meus discos cantam e meus livros falam,
eu não os posso ouvir.
Minhas portas rangem e minhas janelas emperram,
Eu não as posso socorrer.
Nos sonhos sou um vinil, um best- seller,
uma entrada que não sai.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sobre Lígia


Pouco me importa que chova
ou seja dia de sol.
Não gosto de chuva, tão pouco de sol.
Só quero ir ao cinema e transformar
as bobagens que escrevi pra você
em roteiros prá Fellini filmar.
Só quero discar seu número ao
contrário e, no acaso, falar com
alguém que me queira
pra badalar em Bagdá.
Eu nunca sonhei com você,
se sonhei foi engano,
já foi, esqueci.
Só quero acordar quando for noite,
não gosto do dia, não gosto de chopp,
não gosto de bar.
Eu gosto de som, de sons e de
tons morenos em corpos de
homens, mulheres, que gostem ou não
de samba canção, de bossa e do jazz
que jaz no meu quarto,
na minha noite vazia,
que revela segredo algum,
de algum amor, que sempre
esqueci de te dar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Blogs


Blogue-se o mundo,
se colora de tons que a vista não possa alcançar.
Bloguem-se os poetas,
escrevam letras que os sãos não possam
enxergar.
Poetizem-se as imaginárias imagens
com as sombras que as mãos não possam tocar.
Bloguem-se os conservadores com seus bons sensos,
bloguem-se os caretas com suas inverdades,
bloguem-se os amantes com suas declarações de amor,
bloguem-se os belos com suas carcaças vazias,
bloguem-se os sofredores com suas dores tamanhas,
bloguem-se os felizes com seus sorrisos amarelos,
blogue-se o mundo.
Blogar não é verbo,
mas o verbo se faz letra.
Blogar não está no dicionário,
mas faz parte da alma de quem bloga em
pentiuns, laptops e teclados velozes.
Blogar não é droga, mas vicia,
blogar não é ver, mas é conhecer.
Blogar não tem calor, mas transmite
o fogo que derrete a geleira dos que buscam.
Bloguem-se os preconceitos,
bloguem-se as bandeiras,
bloguem-se os sentimentos,
bloguem-se as verdades e mentiras.
Bloguem-se todos que por momentos se deixam
cair no devaneio de escrever o que nunca pensaram poder.
Bloguem-se todos.
E fodam-se os que não blogam

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

As Horas


Tenho ponteiros ajustados dentro de mim
que correm apressados pra chegar ao mesmo ponto.
Imagino que, nesse giro incansável, a vida passa,
pessoas nascem,
pessoas morrem,
países são invadidos,
pessoas choram,
crianças brincam,
carros passam velozes,
bombas explodem,
amores nascem de beijos,
paixões implodem corpos quentes,
casais brigam,
amantes se afastam,
o Papa treme,
e os ponteiros correm.
Nesse tempo em que escrevo rápido
o que a mente já conhece,
pessoas dançam,
meninos dormem,
homens trabalham,
acontecem partos e partidas.
Os ponteiros se cruzam
como que tentando se parar.
Mas o tempo gira,
corre como que sobre supersônicos trilhos.
O paradoxo das horas
é que os mesmos seres que
inventaram os ponteiros
não tem poder de as parar.
Pessoas explodem vivas,
a CNN está no ar
e o cansaço das horas
me faz dormir.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

OUTDOOR


Como se eu precisasse ver sua nau
ancorada em meu cais,
como se a música voltasse
a tocar jamais,
como se responder acalmasse
os meus ais.
Não guardei seu nome em
futuro algum.
Quisera vê-lo estampado
Na camisa de um comum.
Quisera tê-lo escrito em
Lugar nenhum.
Fossem os seus olhos que
acendessem no hotel da
beira mar.
Fosse por teu corpo o
outdoor prá me encantar
Por sua solidão o navio
prá navegar.
Qual desejo seu
pode mover rochedos?
Qual de seus gestos me
aplaca os medos?
A onda quebrará na
praia e novos sois se
porão ao anoitecer.
Andorinhas migrarão fora da
estação, mesmo que a
gente não possa ver.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LIBERTA-ME


Liberta-me dos meus pesadelos insanos
Liberta-me dos meus medos tamanhos
Liberta-me da dor de não saber amar
Liberta-me da prisão dos meus anos passados
Liberta-me da vida mundana
Liberta-me de ser louco
Liberta-me de ser tão são
Liberta-me da voz que não pára em meus ouvidos
Liberta-me do tormento de atormentar-te
Me ame
Me chame
Me sinta no peito como eu te carrego
no meu há quase dois mil e quinhentos anos
Sinta minha pele chamando pela sua até nos dias mais enfadonhos
Me ame como eu te amo sem medidas
Devassamente
Loucamente
Liberte-se dos seus insanos sonhos
Liberte-se dos seus tamanhos pavores
Liberte-se da dor de tanto amar
Liberte-se da prisão do presente
Liberte-se da vida de viajar
Liberte-se de não enlouquecer
Liberte-se de não ser são
Liberte-se da voz que fala em teu ouvido
Liberte-se do tormento de atormentar-te
Me ame
Me chame
Liberta-me porque o amor só vive no vôo
do pássaro que você vislumbra na nossa janela ao amanhecer.

domingo, 2 de dezembro de 2007

A Barreira do Som


Não me escreva intermináveis cartas,
Não me mande e-mails sem meios,
Não me faça uivar na lua cheia,
Não me conduza ao aeroporto
quando não for hora de voar,
Não me faça juras eternas

porque quero você agora.
Quebre a linha tênue que

separa seu medo do meu corpo.
Liberte as amarras que

te prendem feito escravo,
longe da minha liberdade.
Só voe quando for a hora
Só se sinta ganhador quando jogar comigo
Não fique calado enquanto meus dedos velozes
tocam cada tecla de seu corpo nu
Dance ao som de minha música
Goze quando eu apertar enter
Rompa o silêncio
Grite eu te amo quando eu quiser apertar Del
Rompa o vazio de meu teclado
Invada meu monitor
Quebre as imagens
Me quebre a cara
Me deixe andar pela casa
Faça o que quiser
Mas, meu amor,

rompa a barreira do som.

sábado, 1 de dezembro de 2007

LIKE A PRAYER



















Deus me proteja quando o sol se esconder por detrás
dos montes inabitados da minha alma.

Deus me proteja quando for noite e a única luz que
se possa ver seja a que Ele mesmo irradia do alto
do lugar que não podemos conhecer.

Deus me proteja quando a madrugada trouxer os sonhos
e as angústias dos que morreram de amar.

Deus me proteja do dia quando raiar do acordar de
sono breve, às vezes com o peso do Calvário.

E Deus me proteja do Calvário para onde caminham
os homens sensatos.



E Deus me proteja da sensatez da vista que o coração
desconhece.

Deus me proteja de mim, quando revolto pareço mar,
Quando calmo pareço anos, quando louco tomo as
certas direções.

E Deus me proteja da morte por amor, da morte
pela dor, da morte dos outros, da morte.

Deus me proteja da letra da minha poesia sem rima,
Do verso da minha canção sem som, da música do
meu outro eu que não sabe compor.

Deus me proteja dos homens da rua, das mulheres da
vida. E Deus, me proteja da vida dos loucos,
da vida dos outros.

E Deus me proteja da velocidade, da ferocidade,
dos dentes famintos da boca da noite.

E Deus, me proteja de ser lógico. Deus, me proteja da
métrica, da direção precisa e de precisar.