sábado, 8 de março de 2008

A LETRA NO CORPO (capítulo primeiro)


Madrugadas podem ser frias, assim como pessoas podem ser cruéis.
Sobre madrugadas e frio eu sempre entendi muito. Afinal, nasci sob o mais rigoroso dos invernos russos e, criado por minha mãe, já que meu pai nos deixou quando eu tinha apenas sete anos, me habituei a passar noites acordado esperando, junto aos estranhos na estação ou olhando o fogo na pequena lareira, que ela voltasse do trabalho.
Meu nome é Alexei e tenho dezessete anos de idade. Na próxima semana é meu aniversário e serei mais um no exército chercheno.
Talvez lhes pareça comum a minha história, mas, é a minha história. Eu não a desejei, alguém a escreveu como eu lhes escrevo agora.
Naquela madrugada fria, fui até a estação esperar por minha mãe. Me sentei, como de costume, no banco mais próximo da parada 19. Acendi um cigarro e observava os vagabundos, os bêbados, aqueles que chegavam e os que partiam. Me perdi em pensamentos até que fui despertado por um sussuro ao ouvido.
- Você tem um cigarro?
Me afastei bruscamente e ao olhar para ele senti uma mistura de paraíso e horror percorrer minhas veias.
- Perdoe se o assustei.
Sua voz parecia ter algo celeste, mas, também, me trazia uma inexplicável angústia.
Igor Tenenko. Este era seu nome.
Um homem alto, com traços que eu poderia reconhecer em mim mesmo no espelho dos vinte anos futuros.
Igor era um oficial do exército e não foi difícil conversarmos por quase uma hora sentados no banco da parada 19.
Logo, nos víamos todos os dias. Logo, eu sabia tudo sobre aquele homem de olhar doce e sombrio, casaco marrom e que me fazia falar de minha vida como nunca falara ao meu melhor amigo ou à minha própria mãe. Neste ponto, o considerava meu irmão, meu pai, meu filho. É claro que essa relação começava a incomodar minha mãe, que não podia entender porque eu deixara a companhia dos amigos pela cumplicidade com o coronel Tenenko. Afinal, dizia ela, mesmo sem o ter visto, ele tem idade para ser seu pai.

(to be continued)

7 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Rapaz,
passei pelo "sem crase" e entrei aqui, sem parênteses, e escuto esse texto, bonito, cheio de significados.
Melancólico na essência e rico na simbologia: "ele tem idade para ser seu pai."
Um abraço
Jacinta

Luciana Cecchini disse...

É a primeira narrativa sua que leio. Vc é bom em todos os estilos mesmo? Adorei. Texto simples e, ao mesmo tempo, rico em detalhes, intenso em sentimentos. E estou ansiosa pela continuação.Ja te disse, escreva um livro!

Bjo.

Anônimo disse...

Descobri o teu blog através de um post que deixaste ao Germano... Consegui ler este texto e achei mto bom!!!! Com certeza aparecerei por aqui mais vezes!

Beijos e ótima semana!

Friendlyone disse...

Lindão...eu me lembro dessa história...Estou aguardando ansiosa o próximo post!

Beijos, I love u, chuchu!
:-)))

Unknown disse...

Betíssimo esse texto...
Por favor, quando é o próximo post?
hehe...

Bjinhos!
Sheilinha

Pratas Diversas disse...

Estou aqui de novo para dizer que espero ansiosamente pela continuação... adoro ler histórias ricas em detalhes.. não demore, bjo no coração. Anita

Anônimo disse...

To por vender um fusca 68.
Qualquer ibfo, liguem pro Alexei.